A gênese do catolicismo se deu em decorrência do desvio de preceitos das comunidades religiosas primordiais. Após o falecimento de Cristo, idealizador da Igreja, seus aprendizes se tornaram vulneráveis aos assaltos dos opositores. Estevão foi assassinado a pedradas pela turba irada, Atos 7:57-60. Mais tarde, o apóstolo Tiago foi executado pela espada do rei Herodes, Atos 12:1-2. Por mais inacreditável que pareça, as perseguições dos contendores cooperaram para o aparecimento de outras congregações. O livro de Atos assevera “Mas os que andavam dispersos iam por toda a parte, anunciando a palavra” (Atos 8:4). Em razão da opressão, os discípulos escaparam de Jerusalém e, por onde transitavam, o Evangelho era proclamado. Filipe, que era um dos evadidos, comunicou na urbe de Samaria e igualmente ao eunuco, homem notório da Rainha da Etiópia. É bem provável que o eunuco tenha conduzido o Evangelho à nação da Etiópia. Todavia, as hostilidades não se resumiram unicamente aos ataques corporais. Satanás é um antagonista muito sagaz e astuto. Deus edificou Lúcifer e não o Diabo. Lúcifer (condutor da Luz) se metamorfoseou no Diabo porque ambicionava ser semelhante ao Criador, Ezequiel 28:15-17. Quando Satanás percebeu que assassinar os cristãos não estava gerando efeito, então optou por mudar de expediente. O Diabo resolveu desmantelar a fé dos crentes introduzindo concepções incomuns ao Evangelho de Cristo. Ainda nos tempos dos apóstolos, alguns crentes principiaram a crer que a fé em Cristo não era suficiente para a salvação da alma. As obras foram adicionadas à fé para obter a graça de Deus. No Livro de Atos podemos confirmar este fato: “**ENTÃO** alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se não vos circuncidardes conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos” (Atos 15:1). Alguns falsos oradores adentraram dissimuladamente nas igrejas da Galácia e instruíram que era necessário observar os preceitos da lei, perturbando assim o verdadeiro Evangelho de Cristo, Gálatas 1:7. Paulo advertiu aos irmãos gálatas que qualquer outro evangelho diferente que ele tinha anunciado deveria ser considerado anátema (maldito), Gálatas 1:8. Paulo não cedeu nenhum instante aos falsos mestres, e buscou reconduzir os irmãos gálatas à fé verdadeira, Gálatas 2:5; 3:10-11. Após o decesso dos apóstolos, as igrejas continuaram sendo atacadas doutrinariamente. João, o derradeiro dos apóstolos a morrer, foi selecionado por Cristo para escrever às sete igrejas da Ásia. Capítulos dois e três de Apocalipse revelam distintamente os impasses que cada uma das sete igrejas enfrentava. As igrejas foram infectadas pelo vírus maligno do inimigo. Outro equívoco que penetrou nas igrejas foi a de alguns homens que se diziam cristãos, apossarem-se da herança de Deus. O apóstolo Pedro já havia prevenido a respeito disso: “Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto; Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho” (I Pedro 5:1-2). Diótrefes, ainda no tempo do apóstolo João, ambicionava dominar a qualquer custo uma igreja local. “Tenho escrito à igreja; mas Diótrefes, que procura ter entre eles o primado, não nos recebe” (**III** João 9). Depois dos erros citados acima, sucedeu-se outro que tem sido uma das marcas da Igreja Católica Romana e de outras que dela derivaram. “A Regeneração Batismal”. A ideia de que o batismo poderia auxiliar na salvação da alma começou ainda no término do 2º século. Neste século, muitas igrejas já haviam se extraviado dos ensinamentos de Cristo e dos apóstolos. Diversas igrejas questionavam que, se a Bíblia menciona tanto o batismo, então ele possui um valor que pode cooperar na remissão da alma. No princípio do ano 313 D.C., o cristianismo havia conquistado uma poderosa vitória sobre o paganismo. Um novo imperador ascendeu ao trono do Império Romano. Ele, indubitavelmente, reconheceu algo do misterioso poder dessa religião que persistia a crescer, apesar da intensidade da perseguição. A História relata que este Imperador, que não era outro senão Constantino, teve uma prodigiosa e real visão. Avistou no céu uma **CRUZ** de cintilante luz rubra na qual estavam inscritas a fogo as seguintes palavras: “Com este sinal vencerás”. Constantino interpretou isto como uma ordem para que se tornasse cristão. Compreendeu ainda que, abandonando o paganismo e unindo o poder temporal do Império Romano ao poder espiritual do Cristianismo, o mundo seria facilmente conquistado. Deste modo, a religião cristã se tornaria uma religião universal e o Império Romano o Império de todo o mundo. Assim, sob a égide de Constantino, sobreveio um repouso, um agrado e uma proposta de matrimônio. O Império Romano, por meio de seu imperador, solicitou em casamento o cristianismo. Para tornar efetiva e consumada esta profunda união, um concílio foi convocado. Em 313 D. C., foi efetuado um chamamento para que fossem enviados, conjuntamente, representantes de todas as igrejas cristãs. Muitas, mas nem todas, compareceram. A aliança estava consumada. Uma hierarquia foi formada. Na organização desta hierarquia, Cristo foi destronado como chefe da igreja e Constantino foi entronizado (ainda que temporariamente, já se nota) como chefe da igreja. A hierarquia estava definitivamente começando a desenvolver-se no que conhecemos hoje como Igreja Católica ou Universal. Pode-se dizer que isso havia iniciado, ainda que, indefinidamente, já no término do 2o século ou no início do 3o, quando as novas concepções com referência aos bispos e ao governo da Igreja começaram a se formar. **Deve ser também claramente lembrado**, quando Constantino fez a convocação para o citado Concílio, houve muitos cristãos (batistas) que deixaram de responder à mesma. Eles não aprovavam o enlace da religião com o estado, nem a centralização do governo religioso, nem a criação de um tribunal religioso mais elevado, de qualquer natureza que não fosse a Igreja local. Estes cristãos (batistas), bem como suas igrejas deste tempo ou ulteriormente, não aceitaram a hierarquia denominacional católica. Quando esta hierarquia foi criada, Constantino, que havia sido feito o seu cabeça, não era ainda cristão. Ele havia decidido tornar-se, mas como as igrejas que o acompanharam na fundação desta organização hierárquica, tinham adotado o erro da regeneração batismal, uma série questão se levantou na mente de Constantino: “Se eu sou salvo dos meus pecados pelo batismo, como escapar dos meus pecados posteriores ao batismo?” Constantino levantou assim uma questão que iria perturbar o mundo em todas as gerações seguintes. Pode o batismo lavar de antemão os pecados não cometidos? (ou são) os pecados cometidos antes do batismo lavados por um processo (isto é, pelo batismo) e os cometidos depois do batismo, por outro processo? Não tendo sido possível solucionar satisfatoriamente as muitas questões assim levantadas, Constantino resolveu finalmente unir-se aos cristãos, mas adiando o seu batismo para mais perto de sua morte, porque assim todos os seus pecados poderiam ser lavados de uma só vez. Este propósito ele seguiu **e não havia sido ainda batizado até pouco antes de sua morte**. < > Abandonando a religião pagã e aderindo ao Cristianismo, Constantino incorreu em séria reprovação por parte do Senado Romano. Eles repudiaram ou, ao menos, opuseram-se à sua resolução. Esta oposição resultou finalmente na mudança da sede do Império de Roma para Bizâncio, uma velha cidade reedificada, que logo depois teve o nome mudado para Constantinopla, em honra a Constantino. Como resultado, surgiram duas capitais. para o Império Romano: Roma e Constantinopla. Essas duas urbes, concorrentes por diversas décadas, finalmente se tornaram o epicentro da Igreja Católica cindida: Romana e Grega. Constantino fez findar a opressão aos cristãos em todo o império e paulatinamente foi agraciando-os com benesses. O monarca logo constatou a evidente separação entre os cristãos. Percebera a relevância de ser amparado pela hierarquia de uma religião pujante. Contudo, necessitava que essa hierarquia fosse unânime em sua lealdade ao Estado. Assim, ainda que pagão, **liderou assembleias da Igreja e impeliu-a a consolidar-se**. Devido a essa conduta, foi prontamente confrontado pelos anabatistas. Irritado, e aliando-se aos cristãos equivocados, expatriou e hostilizou os devotos que não concordaram com sua unificação das igrejas. Iniciaram-se as cruéis perseguições das seitas cristãs oficiais – resguardadas pelo imperador – contra as não oficiais, os anabatistas, que se mantiveram independentes do governo. Pela primeira vez na história, a partir do ano 313, deparamos com a página mais sombria da história das igrejas. Encontramos cristãos desviados perseguindo os cristãos íntegros. Esta perseguição, além de visar ao extermínio dos anabatistas, também foi a mais dilatada. Perdurou mais de mil e trezentos anos, chegando ao fim após a Reforma no século **XVII**. Depois que Constantino se tornou o chefe das igrejas desviadas da verdade, as alterações doutrinárias nestas igrejas foram se acumulando a cada ano que se passava. A ideia de que o batismo poderia auxiliar na regeneração da alma possuía vasta aceitação por parte dos desviados que aceitaram o matrimônio com o poder temporal. A igreja que aceitou Constantino como seu dirigente, acreditando que o batismo era um agente ou meio de salvação, supunha que quanto mais cedo fosse ministrado o batismo, maior garantia poderia ter da salvação. Foi então que surgiu o “batismo infantil”. Por que aguardar a idade adulta ou mesmo a senilidade para ser batizado? “Ninguém sabe o que pode acontecer amanhã”, cogitavam os simpatizantes da “nova igreja”. Antes disto “crentes” e “crentes” somente, eram considerados em condições de submeterem-se ao batismo. “Aspersão” e “derramamento” eram formas até então desconhecidas. Surgiram muito mais tarde. **Por diversos séculos os infantes eram, como os demais**, imersos. A Igreja Ortodoxa Grega (que é um grande ramo da Igreja Católica) até hoje não alterou a forma original de batismo. Ela pratica o batismo infantil, mas nunca procedeu de outro modo que não o da imersão das crianças. (Nota. alguns historiadores da igreja põem o inicio do batismo infantil neste século, mas eu citarei um pequeno parágrafo das “Robinson’s Ecclesiastical Researches” (Pesquisas Eclesiásticas de Robinson): “Durante os primeiros três séculos as congregações espalhadas no oriente funcionaram em corpos independentes e separados, sem subvenção por parte do governo, e, conseqüentemente, sem qualquer poder secular da Igreja sobre o Estado ou vice-versa. Em todo esse tempo as igrejas batizavam e, segundo o testemunho os Pais dos primeiros 4 séculos, até Jerônimo (370, A. D.), na Grécia, Síria e África, é mencionado um grande número de batismos de adultos, sem a apresentação de ao menos um batismo de criança, até o ano 370 A. D.” (Compêndio de História Batista por Shackelford, p. 43; Vedder p. 50; Chrishan p. 31; Orchard p. 50, etc.). A hierarquia organizada sob a liderança de Constantino, rapidamente se concretizou naquilo que agora conhecemos como Igreja Católica. E a novel igreja se associou ao governo temporal, não mais para ser simplesmente a entidade executiva das leis completas do Novo Testamento, mas começou a ser legislativa, começando a emendar e anular leis primitivas, bem como a criar regras completamente estranhas à letra e ao espírito do Novo Testamento. Uma das primeira ações legislativas da Igreja, e uma das mais subversivas quanto aos resultados foi o estabelecimento, por lei, do batismo infantil. Em virtude desta lei o batismo infantil tornou-se compulsório. Isto ocorreu em cerca de 416 A. D. Ele já existia, em casos esparsos, provavelmente, um século antes desde decreto. Mas, com a efetivação por lei desta prática dois princípios do Novo Testamento foram naturalmente abordados: – o do “batismo dos crentes” e o da “obediência voluntária ao batismo”. Como consequência inevitável desta nova doutrina e lei, ,as igrejas desviadas foram rapidamente se enchendo de membros **inconversos**. E de fato não se passaram muitos anos até que a maioria, provavelmente, de seus membros fosse composta de pessoas não regeneradas. Assim os grandes interesses espirituais do Reino de Deus caíram nas mãos de um incrédulo poder temporal. Que se poderia esperar então? Em 426 A.D., justamente 10 anos depois do estabelecimento legal do batismo infantil, foi iniciado o tremendo período que conhecemos como “Idade das Trevos” (Idade Média, not. Do trad.). Que período! Quão tremendo e sanguinolento o foi! A partir de então, por mais uma dezena de séculos o rasto do cristianismo do Novo Testamento foi grandemente regado pelo sangue dos cristãos. Milhões de crentes perderam suas vidas, pagando o preço da fidelidade ao Senhor Jesus Cristo. Preferiram morrer do que negar o nome do Senhor que os resgatou pela cruz do Calvário. Nossos antepassados sofreram as mais variadas e terríveis perseguições por parte dos que se uniram ao poder temporal. Creio que nem Constantino tinha a idéia do resultado da união do seu império com os chamados cristãos. Foi ainda no alvorecer da “Idade das Trevas” que o Papismo tomou corpo definitivo. Seu inicio data de Leão **I** de 440 a 461 A.D. Este título, semelhantemente ao nome dado à Igreja Católica, tinha possibilidade de um amplo desenvolvimento. O nome aparece aplicado primeiramente, para designar o bispo de Roma, 296-404 A.D. mas foi formalmente adotado pela primeira vez por Cirilo, bispo de Roma 384-398. Mais tarde foi adotado oficialmente por Leão **I**, 440-461. Sua universalidade foi reclamada em 707. Alguns séculos mais tarde foi declarado por Gregório **VII**, ser o titulo exclusivo do Papado. Por falta de espaço, infelizmente, não poderemos descrever neste pequeno estudo todas as mudanças que houve no decorrer dos séculos no seio da Igreja Católica. Mas vamos dar uma súmula dos mais significativos eventos ocorridos nos primeiros cinco séculos: 1) A mudança gradual do governo democrático da Igreja para o governo eclesiástico. 2) A mudança da salvação pela graça para a salvação pelo batismo. 3) A mudança do batismo de crentes para batismo infantil. 4) A hierarquia organizada. Casamento da Igreja com Estado. 5) A sede do Império mudada para Constantinopla. 6) O Batismo Infantil estabelecido por lei e tornado compulsório . 7) Os cristãos nominais começam a perseguir os cristãos. 8) A “Idade de Trevas” começa em 426 a.D. 9) A espada e a tocha, de referência ao Evangelho, que se tornou o poder de Deus para a salvação. 10) Todo o vestígio de liberdade religiosa é desfeito, coberto e enterrado por muitos séculos. 11) As igrejas fiéis ao Novo Testamento são perseguidas e tratadas por nomes diversos. São ainda açuladas para o mais longe possível do poder temporal católico. O remanescente destas igrejas se espalhou por todo o mundo e é achado, talvez escondido, em florestas, montanhas, vales, antros e cavernas da terra. **BIBLIOGRAFIA**: O ** **IMERSÃO BIZARRA** e **OS BATISTAS**, por W. **MNEVINS**. **PEGADAS DE SANGUE**, por J.M. **CARROLL**. A **GÊNESE**, por **GILBERTO STEFANO** A **CRÔNICA DOS BATISTAS**, por **JERRY DONALD ROSS**. *Antônio Carlos Dias*
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