o-caminho-da-cristandade

I- Significado da Palavra
A singela convicção implica uma propensão de ânimo para acreditar em outro indivíduo. Distingue-se de ingenuidade, pois aquilo em que a crença deposita confiança é verídico na realidade, e, ainda que frequentemente ultrapasse o nosso discernimento, não o contradiz. A ingenuidade, no entanto, nutre-se de fantasias, e é promovida pela mera imaginação. A convicção se diferencia da crença porque é uma segurança do íntimo e não somente uma concordância intelectual. A convicção religiosa é uma firme confiança em certa pessoa ou preceito estabelecido, que causa influência na dinâmica mental e espiritual dos indivíduos, devendo, ordinariamente, direcionar o seu cotidiano. A convicção é uma postura, e deve ser um incentivo.
A convicção cristã é uma completa segurança em Cristo, pela qual se concretiza a união com o Seu Espírito, havendo a disposição de experimentar a vida que Ele consentiria. Não é uma aceitação cega e insensata, mas um sentimento alicerçado nos acontecimentos da Sua vida, da Sua obra, do Seu Poder e da Sua Palavra. A revelação é forçosamente uma antecipação da convicção. A convicção é apresentada como “uma singela mas profunda segurança Naquele que de tal maneira discorreu e viveu na luz, que instintivamente os Seus verdadeiros devotos obedecem à Sua vontade, estando mesmo em trevas”. A mais simples definição de convicção é uma segurança que emana do coração.

II- A Convicção no AT
As disposições para com Deus que no NT a convicção nos aponta, é amplamente designada no AT pela expressão “receio”. O receio precede a convicção; a veneração precede a segurança. Mas é totalmente evidente que a segurança em Deus é regra fundamental no AT, sendo isso particularmente compreendido naquela porção do AT, que trata dos fundamentos das coisas, isto é, nos Salmos e nos Profetas. Não se distancia da verdade, quando se pondera que o “receio do Senhor” contém, ao menos na sua expressão, o embrião da convicção no NT. As expressões “acreditar” e “segurança” ocorrem diversas vezes; e o mais notório exemplo está, decerto, na crença de Abraão (Gn 15.6), que nos documentos tanto judaicos quanto cristãos é considerada como paradigma típico de convicção na prática.

III- A Convicção, nos Evangelhos
Convicção é uma das expressões mais comuns e mais características do NT. A sua acepção varia um pouco, mas todas as variações se aproximam demasiadamente. No seu mais singelo uso manifesta a segurança de alguém que, diretamente, ou de outra maneira, está em contato com Jesus por intermédio da expressão verbalizada, ou da garantia firmada. As expressões ou garantias de Jesus estão sempre, ou quase sempre, em determinada conexão com a obra e a expressão de Deus. Neste sentido a convicção é uma segurança na obra, e na expressão de Deus ou de Cristo. É este o uso comum dos três primeiros Evangelhos (Mt 9.29; 13.58; 15.28; Mc 5.34-36; 9.23; Lc 17.5,6). Esta convicção, ao menos naquele tempo, implicava nos discípulos a segurança de que iriam realizar a obra para a qual Cristo lhes concedeu poder; é a convicção que efetua milagres. Na passagem de Mc 11.22-24 a convicção em Deus é a designada. Mas a convicção tem, no NT, uma acepção muito mais extensa e mais importante, um sentido que, na realidade, não está fora dos três primeiros Evangelhos (Mt 9.2; Lc 7.50): é a convicção salvadora que implica salvação. Mas esta concepção geralmente se evidencia no quarto evangelho, ainda que seja admirável que o substantivo “convicção” não se observe em parte alguma deste livro, sendo muito comum o verbo “acreditar”. Neste Evangelho encontra-se representada a convicção, como criada em nós pela obra de Deus (Jo 6.44), como sendo uma determinada segurança na obra e poder de Jesus Cristo, e também um instrumento que, operando em nossos corações, nos conduz para a vida e para a luz (Jo 3.15-18; 4.41-53; 19.35; 20.31, etc). Em cada um dos evangelhos, Jesus Se proclama Salvador, e suplica a nossa convicção, como uma postura mental que devemos possuir, como instrumento que devemos usar, e por meio do qual possamos alcançar a salvação que Ele nos oferece. A tese é mais clara em João do que nos evangelhos sinóticos, mas é bastante clara no último (Mt 18.6; Lc 8.12; 22.32).

IV- A Convicção, nas Cartas de Paulo
Nós somos justificados, reconhecidos justos, simplesmente pelos méritos de Jesus Cristo. As obras não possuem valor, são obras de filhos rebeldes. A convicção não é uma causa, mas tão somente o instrumento, a estendida mão, com a qual nos apossamos da dádiva da justificação, que Jesus pelos méritos expiatórios, está apto a nos ofertar. Este é o ensinamento da epístola aos Romanos (3 a 8), e o da epístola aos Gálatas. De fato, estamos sendo justificados, somos santificados pela constante operação e influência do Santo Espírito de Deus, essa grandiosa dádiva outorgada à igreja e a nós pelo Pai por meio de Jesus. E ainda nesta consideração a convicção possui uma função a desempenhar, a de meio pelo qual nos sujeitamos à operação do Espírito Santo (Ef 3.16-19).

V- Convicção e Obras

Tem-se declarado que existe contradição entre Paulo e Tiago, com respeito ao lugar que a convicção e as obras geralmente ocupam, e especialmente em relação a Abraão (Rm 4.2; Tg 2.21).
Realizando uma comparação atenta entre os dois autores, verificaremos rapidamente que Tiago, pela expressão convicção, quer designar uma improdutiva e especulativa crença, uma simples ortodoxia, sem indício de vida espiritual. E pelas obras quer ele dizer as que são provenientes da convicção. Já vimos o que Paulo ensina a respeito da convicção. É ela a obra e dádiva de Deus na sua gênese, e não meramente na mente; é uma profunda certeza de que são verazes as promessas de Deus em Cristo, por uma inteira segurança Nele; e desta maneira a convicção é uma fonte natural e certa de obras, pois se trata de uma convicção viva, uma convicção que atua pelo amor (Gl 5.6).
Paulo condena aquelas obras que, sem convicção, reivindicam mérito para si próprias; ao passo que Tiago recomenda aquelas obras que são a decorrência da convicção e justificação, que são, na verdade, uma prova de justificação. Tiago condena uma convicção morta; Paulo enaltece uma convicção viva. Não há, pois, contradição. A convicção viva, a convicção que justifica e que se manifesta por intermédio daquelas boas obras, aprazíveis a Deus, pode ser conhecida naquela frase já citada: “a convicção que atua pelo amor”.

Dicionário Bíblico Universal

Espaço reservado para anúncio