As jornadas que os descendentes de Israel empreenderam, caminhando do Egito à terra de Canaã, representaram uma formação fundamental para seu aprendizado. Foi em Ramessés que se iniciou o deslocamento dos israelitas. A rota direta deste lugar para Canaã teria sido pelo território dos filisteus, ao norte dos lagos Amargos, e ao longo da borda setentrional do deserto de Sur. Contudo, essa direção lhes foi vetada (Ex 13.17,18); e, portanto, depois de por algum tempo seguirem o sentido oriental, continuaram para o sul, alegrando certamente o Faraó, pois supunha tê-los assim sob seu controle. Acamparam na primeira noite em Sucote, que não deveria estar distante de Ramessés. Na segunda tarde, alcançaram a extremidade do deserto, em Etã. Presumivelmente, agora deveriam ter prosseguido para o Oriente, mas foi-lhes determinado que “retrocedam e que acampem defronte de Pi-Hairote, entre Migdol e o mar, diante de Baat-Zefom” (Ex 14.2); era um estreito desfiladeiro, próximo ao litoral ocidental do Golfo, entre as montanhas que protegem o mar e uma pequena baía ao sul. Ficavam deste modo “desorientados na terra”. Esse movimento teve o efeito de atrair o Faraó para perto deles; e o propósito de modificar desta forma a linha da sua jornada foi revelado a Moisés (Ex 14.17). Os egípcios se aproximaram dos israelitas quando estes estavam acampados em frente ao braço ocidental do mar Vermelho. Como, tanto na extensão quanto na profundidade do golfo de Suez, ocorreu uma considerável alteração no transcorrer destes últimos trezentos anos, em razão de uma grande acumulação de areia, é por essa razão impossível determinar o lugar onde os israelitas atravessaram. Eles passaram pelo mar em seco para o lado oriental, próximo ao local agora chamado *Ayun Musa* (poços de Moisés), dando início aqui ao deserto de Sur (Ex 15.22), ou o deserto de Etã (Nm 33.8). Estas duas expressões se aplicam à parte superior do deserto; este deserto se alastra desde o Egito até à praia oriental do mar Vermelho, e se expande para o Norte até à Palestina. O trajeto que os israelitas escolheram é uma ampla trilha pedregosa, entre as montanhas e a costa, na qual correm no inverno vários córregos, que brotam nos montes. Naquele momento, tudo deveria estar seco. O lugar onde primeiramente se estabeleceram foi Mara (*amargo*), onde foi realizado o milagre de se tornar doce a água amarga (Ex 15.23-25). O local onde isso ocorreu é, provavelmente, *Ain Hawara*, perto do riacho, chamado *Wady Amarah*, que possui a mesma significação de Mara. A seguinte parada foi Elim, “onde havia doze fontes de água e setenta palmeiras” (Ex 15.27); este local fixado por Niebhr e Burckhardt no vale onde corre Ghurundel, que é a maior de todas as correntes, no lado ocidental da península. Este vale contém agora tamareiras, tamargueiras e acácias de diferentes espécies. Obtém-se aqui água em abundância, cavando poços; há, também, uma copiosa nascente, com um pequeno regato. Chegaram depois os israelitas ao deserto de Sim, “entre Elim e Sinai” (Ex 16.1), no sopé da escarpada cumeeira de *et-Tih,* um nome que significa “divagação”; é “um deserto medonho, quase inteiramente destituído de vegetação”. Foi logo depois de terem adentrado este deserto que os israelitas obtiveram miraculosa provisão de codornizes e de maná. Os estudiosos supõem que eles tomaram em seguida a direção do sudeste, marchando para a cordilheira do Sinai. Neste caso, a sua passagem teria sido pelo extenso vale, a que os árabes chamam *Wady Feiran.* Passaram depois por Dofca e Alus. O vale Feiran é o local mais fértil de toda a região; e é aqui que devemos procurar Refidim, onde pela primeira vez foram atacados (Ex 17.8-13). Jetro, sogro de Moisés, também o visitou em Refidim; e pelo seu conselho foram nomeados juízes para auxiliar o chefe israelita na ação judicial (Ex 18). E aqui, entre elevados picos, estava a rocha que, por ordem de Deus, foi ferida por Moisés, jorrando dela depois abundância de água. Em seguida, estabeleceram seu acampamento no ermo do Sinai, onde o Todo-Poderoso revelou à multidão a Sua vontade por intermédio de Moisés; foi concedido o Decálogo (dez mandamentos) ao homem, e foi firmado o Pacto (Ex 20.1-17; 24.7,8). Neste deserto também se deu o caso do culto prestado ao bezerro de ouro, e a enumeração do povo, e a construção do Tabernáculo; além disso, Arão e seus filhos foram consagrados, celebrou-se a segunda Páscoa, e morreram Nadabe e Abiú por terem oferecido fogo estranho ao Senhor. O monte, onde a Lei foi dada, chama-se Horebe no Deuteronômio, e Sinai nos outros livros do Pentateuco (5 livros: Gn, Ex, Lv, Nm e Dt). Provavelmente o primeiro nome designa todo o território, e o outro simplesmente a montanha, onde foi revelada a Lei. Permaneceram os israelitas no deserto do Sinai um ano aproximadamente, surgindo de novo o sinal para a partida. Desde então as suas marchas e acampamentos foram sempre guiados pelo Senhor. Uma nuvem, que manifestava a Sua presença, cobria o tabernáculo de dia, e *"à tarde estava sobre o tabernáculo uma aparência de fogo até à manhã"* (Nm 9.15). O erguer da nuvem era sinal de avançar, caminhando eles após ela; e, quando a nuvem parava sobre o tabernáculo, queria isso dizer que deviam acampar de novo. As conjecturas, são que eles se deslocaram para o norte, ao longo do *Wady esh-Sheikh,* entrando numa grande planície chamada *el-Hadharah,* na qual estava Taberá, nome que significa “incêndio”, e que lhe foi atribuído em razão de ser ali destruído pelo fogo, que desceu do céu, num certo número de israelitas revoltosos (Nm 11.1-3). A estação seguinte foi Quibrote-Taavá, ou os “sepulcros da concupiscência” (Nm 11.34; 33.16). De Quibrote marcharam para Hazerote onde ocorreu a sedição de Miriã e Arão (Nm 12). As estações nesta parte do deserto foram Ritmá, Rimom-Perez, Libna e Cades-Barneia, sendo alcançado provavelmente este último lugar pelo mês de junho mais ou menos. Quando se aproximava da Terra Prometida, foram enviados alguns olheiros (espiões) para a examinarem; mas, quando regressaram, as suas informações foram de tal maneira assustadoras que o povo se rebelou; e por esta razão os hebreus tiveram de vagar no deserto pelo espaço de quarenta anos. Partindo os israelitas de Cades-Barneia, depois da sua segunda visita, em que houve a provocação ao Senhor nas águas de Meribá, vieram eles até ao monte de Hor, perto de Petra, onde morreu Arão. Esse monte, verdadeiro trono de desolação, consta de quebradas, de ruínas e de escuras profundidades. Os árabes chamam-lhe *Jebel Neby Hayran,* que quer dizer: o “monte do profeta Arão”; e ainda hoje, quando uma caravana oriental avista seu cume, sacrifica um cordeiro em memória daquele grande sacerdote. Passando pelo *Wadi Arabah* (provavelmente o “deserto de Zin”) para Eziom-Geber (da segunda vez) e Elate, o povo chegou ao golfo oriental do mar Vermelho, e regressou para o norte pelo deserto oriental da Arábia. Neste lugar existe um grande desfiladeiro, vindo do nordeste através das montanhas, constituindo a principal passagem no Wadi Arabá para o deserto. A ascensão dos israelitas foi, sem dúvida por esta estreita passagem, quando se desviaram do mar Vermelho, e retornaram aos territórios de Edom. Nesta ocasião o povo estava muito desanimado por causa do caminho, e murmurou conta Deus e contra Moisés. As suas reclamações foram punidas, aparecendo entre eles umas serpentes ardentes, cujas picadas produziam a morte; mas, por ordem do Senhor, foi levantada uma serpente de bronze, sendo curados os que para ela olhavam com fé. Prosseguiram depois a sua viagem pelas faldas orientais das montanhas de Seir. Os edomitas que primeiramente lhes haviam negado a passagem pela sua terra, agora consentiam, fornecendo-lhes também mantimentos para o seu caminho (Dt 2.3-6). Nada se sabe das suas passagens até que chegaram a Zerede, um pequeno ribeiro que corre pelas montanhas até à extremidade ocidental do mar Morto. E partindo daquele Sítio “acamparam-se na outra margem de Arnom, que… é o termo de Moabe, entre Moabre e os Amorreus” (Nm 21.13). E dali se dirigiram para Beer, ou Beer-Elim, o poço dos nobres do povo, onde vendo que estavam quase chegados ao fim do deserto, e na perspectiva duma rápida entrada na Terra Prometida, entoaram o “cântico do poço” (Nm 21.17,18). Os israelitas, após este acontecimento, desbarataram o seu terrível O adversário Seom, monarca dos amorreus, que residia em Hesbom, e cujas posses se prolongavam pelas orlas do mar Salgado, e pelo vale oriental do Jordão até ao córrego Jaboque. Triunfando no conflito contra Ogue, que obtivera as regiões a leste do mar da Tiberíades, os israelitas tomaram a parte oriental do vale do Jordão. Estas terras dominadas, sendo propícias para pastos, foram concedidas às tribos de Rúben e Gade, e à metade da tribo de Manassés, que possuía muito rebanho; mas sob a imposição de ampararem as demais tribos na sua conquista de Canaã, a oeste do Jordão (Nm 32; Dt 3.8-20; Js 1.12-18). E por essa razão a subsequente parada foi denominada Dibom-gade, para diferenciar de outra Dibom pertencente aos rubenitas (Js 13.17). As sobras desta localidade, com a designação de Dibom, notam-se aproximadamente seis quilômetros ao norte do ribeiro Arnom. Desse sítio marcharam para Almom-Diblatain ou Diblataim, de onde prosseguiram para os montes de Abarim, defronte do monte Nebo. Por último estabeleceram-se próximo do Jordão, desde Bete-Jesimote até Bete-Sitim, em frente de Jericó (Nm 33.49). E assim findou uma peregrinação de quarenta anos, transpondo essencialmente sítios ermos, percurso que poderia ter-se realizado em algumas semanas. Dicionário Bíblico Universal
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