compreendendo-os-anjos-uma-exploracao-da-angelologia

Lógico é que exista uma hierarquia ascendente da existência, desde o ser humano alçando-se a Deus, assim como há uma hierarquia descendente, do ser humano para níveis inferiores. Uma reflexão sobre a imensidão e a beleza deste universo pode facilmente suscitar a questão: Será o ser humano a única criatura que "possui intelecto para apreciar e ponderar este favor divino" e para glorificá-Lo por isso? Sem a Bíblia, permaneceríamos em obscura suposição, porém, nela, temos nítida revelação de uma ordem de seres acima do ser humano, de ordens e níveis existentes e ascendentes, denominados anjos.

I. A ESSÊNCIA DOS ANJOS
  1. SÃO SERES GERADOS.

No Salmos 148:1-5 os anjos estão entre as entidades exortadas a louvarem o Senhor na base que “Ele mandou e eles foram criados”. Que os anjos foram seres criados está bem provado em Colossenses 1:16, que diz: “Porque nEle foram criados todas as coisas, nos céus e sobre a terra, visíveis e invisíveis, quer sejam tronos ou domínios ou principalidades ou potestades”.

  1. ELES SÃO ESPÍRITOS INTEIROS.

Não pretendemos dizer aqui que todos os anjos são isentos de pecado; pois, como veremos mais adiante, alguns são malignos. O que pretendemos dizer é que a essência dos anjos é espírito não combinado com materialidade. Os anjos não detêm corpos como integrante do seu ser, ainda que venham a assumir corpos para a execução de certos intentos de Deus, como em Gênesis 19. Asseveramos que os anjos são espíritos inteiros porque, em Hebreus 1:14, são chamados espíritos. O ser humano não é jamais designado assim irrestritamente. Cristo disse que “um espírito não tem carne e ossos” (Lucas 24:39).

  1. ELES COMPÕEM UMA ORDEM DE CRIATURAS MAIS ALTAS QUE O SER HUMANO.

Do ser humano se diz que ele foi feito “um pouco menor do que os anjos” (Hebreus 2:7). Dos anjos se diz serem maiores do que o ser humano em poder (2 Pedro 2:11). O seu poder superior está implícito também em Mateus 26:53; 28:2; 2 Tessalonicenses 1:7. Todavia, os anjos são servos auxiliadores dos crentes (Hebreus 1:14) e pelos crentes serão julgados (1 Coríntios 6:3). Este último fato parecia indicar que o ser humano, ainda que agora inferior em essência aos anjos será depois, no seu estado glorificado, como um troféu da graça redentora de Deus, exaltado com Cristo bem acima dos anjos (Efésios 1:20,21; Filipenses 2:6-9).

  1. ELES NÃO POSSUEM GÊNERO. Mateus 22:30 declara-se que os anjos não se casam, o que os demonstra sem gênero. “Filhos de Deus” em Gênesis 6:2 não são anjos, mas descendentes de Sete: os verdadeiros adoradores de Deus, como diferenciados dos descendentes de Caim.
  2. ELES SÃO ETERNOS.

Judas 6 declara que os anjos não podem falecer, o que significa que eles não podem deixar de existir.

II. CATEGORIAS DE ANJOS

Os anjos consistem em anjos escolhidos e anjos caídos. As seguintes passagens aludem a estas duas categorias e as seguintes:

“Conjuro-te diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo e dos anjos eleitos que, sem prejuízo algum guardes estas coisas, nada fazendo por parcialidade” (1 Timóteo 5:21).

“Deus não poupou os anjos quando eles pecaram, mas os lançou no inferno, entregou-os às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo” (2 Pedro 2:4).

“Mas aos anjos que não guardaram sua principalidade, mas deixaram sua própria habitação, reservou debaixo da escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia” (Judas 6).

Os anjos escolhidos são aqueles a quem Deus elegeu para preservar em santidade. Aos outros, permitiu que tombassem, e para eles não se providenciou nenhuma redenção ou possibilidade de escape.

III. ESTRUTURA, NÍVEIS E POSIÇÕES ENTRE OS ANJOS

Em Judas 9 temos Miguel mencionado como um arcanjo. Vide Também 1 Tessalonicenses 4:16. “Arcanjo” significa o comandante dos anjos. Gabriel também parece ocupar um posto relativamente alto entre os anjos. Vide Daniel 8:16; 9:16,21; Lucas 1:19.

A menção de tronos, domínios, principalidades e potestades entre as coisas invisíveis, em Colossenses 1:16, implica níveis e estrutura entre os anjos. E em Efésios 1:21 e 3:10 temos a menção de regime, autoridade, potestade e domínio nos lugares celestiais. Das ordens nomeadas em Colossenses 1:16, E. C. Dargan, no seu comentário, representa “tronos” como “sendo o mais elevado, próximo a Deus e assim chamados, tanto por estarem perto de Deus e sustentarem o trono de Deus como por sentarem eles mesmos sobre tronos aproximando-se mais perto de Deus em glória e dignidade; depois “domínios”, ou senhorios, aqueles que exercem poder ou senhorio sobre os inferiores ou homens; depois “principalidades”, ou “principados”, os de dignidade principesca; finalmente, “potestades”, ou autoridades, aqueles que exercem poder ou autoridade sobre a ordem angélica mais baixa, logo acima do homem”.

Consideramos mais satisfatório observar os “querubins” de Gênesis, Êxodo e Ezequiel, com os quais identificaríamos também os “serafins” de Isaias e as criaturas viventes do Apocalipse, não como seres reais senão como representações simbólicas, ilustrando verdades da atividade e do governo divino. As criaturas viventes do Apocalipse parece simbolizarem o louvor da criação inferior de Deus por causa deles serem “livrados do cativeiro da corrupção para a liberdade da glória dos filhos de Deus” (Romanos 8:21). Os vinte e quatro anciãos associados às criaturas viventes parecem representar a humanidade redimida. E bom é notar que as criaturas viventes não se incluem entre aqueles redimidos para Deus. Essas, como representativas da criação inferior dando louvor a Deus, cumprem o Salmos 145:10, que diz: “Todas as Tuas obras Te louvarão, ó Senhor”.

IV. OS ANJOS NÃO DEVEM SER ADORADOS

“E quando ouvi e vi, prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrava estas coisas, para o adorar: e ele disse-me: “Olha não faças tal, porque eu sou conservo teu e de teus irmãos os profetas e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus” (Apoc. 22:8,9).

Isto está também condenado em Colossenses 2:18.

  1. O OFÍCIO DOS ANJOS
  2. DE ANJOS SANTOS.

(1) Eles glorificam ao Senhor e cumprem os Seus mandamentos.
Salmos 103:20; 148:2.

(2) Eles se alegram com a redenção dos seres humanos.
Lucas 15:7,10

(3) Eles auxiliam os herdeiros da redenção.
Hebreus 1:14; 1 Reis 19:5-8; Daniel 6:22; Salmos 34:7; 91:11,12; Atos 12:8-11.

(4) Eles são emissários de Deus aos seres humanos.
Gênesis 19:1-13; Números 23:25; Mateus 1:20; 2:13,19,20; Lucas 1:11-13-19; Atos 8:26; 10:3-6; 27:23,24.

(5) Eles executam o desígnio de Deus.
2 Samuel 24:16; 2 Reis 19:25; 2 Crônicas 32:21; Salmos 35:5,6; Mateus 13:41,42; 13:49,50; 24:31; Atos 12:23; Apocalipse 7:1,2; 9:15; 15:1.

(6) Eles concederam a Lei.
Atos 7:53; Gálatas 3:19; Hebreus 2:2.

(7) Eles auxiliaram a Cristo.
Mateus 4:11; Lucas 22:43.

(8) Eles acompanharão a Cristo na Sua segunda vinda.
Mateus 25:31,32; 2 Tessalonicenses 1:7,8.

(9) Eles estão presentes nos cultos da igreja.
1 Coríntios 11:10.

(10) Eles possuem grande interesse na verdade divina e aprendem por meio da igreja. /em>
1 Pedro 1:12; Efésios 3:10.

Não existe indicação alguma para demonstrar uma atuação constante de anjos entre Deus e a humanidade. Eles não são, de maneira nenhuma, considerados mediadores habituais entre Deus e o homem. Sua atuação é esporádica e incomum; sua ação está sujeita à ordem e autorização de Deus.

Entretanto, é notório que o fiel comum não tem dado a devida relevância ao serviço dos anjos. Por outro lado, a concepção de um anjo da guarda individual para cada pessoa não encontra alicerce nas Escrituras. J. P. Boyce expressa:

“Orientados por lendas rabínicas e influenciados pelas ideias singulares da filosofia oriental, alguns têm imaginado que um anjo zela por cada indivíduo nesta vida, com o objetivo de protegê-lo e defendê-lo do mal. Essa teoria do anjo da guarda tem sido defendida de diversas formas. Alguns restringiram sua presença aos justos; outros a estenderam também aos perversos; alguns presumiram dois anjos em vez de um, – um benéfico e outro maléfico. De forma similar, a teoria tem sido defendida em relação a anjos da guarda sobre nações; alguns limitando-a a nações virtuosas, outros estendendo-a a todas. Que tais ideias existiam entre os judeus e que prevaleceram também entre os cristãos primitivos, pode-se admitir; mas falta fundamento bíblico para elas” (Abstract of Systematic Theology, pág. 179).

Na realidade, existem somente dois trechos que sugerem minimamente essa doutrina de um anjo da guarda para cada indivíduo, que são Mateus 18:10 e Atos 12:15. A respeito de Mateus 18:10, John A. Broadus declara: “Não existe garantia suficiente aqui para a noção popular de “anjos da guarda”, um anjo especialmente designado para cada indivíduo; declara-se simplesmente, de crentes como uma classe, que há anjos que são seus anjos, mas não há nada aqui ou em outro lugar que indique que um anjo possua o cargo especial de um crente”. (Commentary on Mathew).

Em Atos 12:15, H. B. Hackett declara: “Era crença corrente entre os judeus, diz Lightfoot, que cada indivíduo possui um anjo da guarda e que esse anjo pode assumir uma aparência visível semelhante à da pessoa cujo destino lhe é confiado. Essa ideia surge aqui, não como uma doutrina das Escrituras, mas como uma opinião popular que não é afirmada nem negada” (Comentary on Acts). Sobre essa passagem, Broadus também diz: “Os discípulos que estavam orando por Pedro durante sua prisão, quando a jovem insistiu em que Pedro estava à porta, logo chegaram à conclusão de que Pedro havia sido executado e que o que se dizia ser ele era “seu anjo” (Atos 12:15), segundo a noção de que o anjo da guarda de um homem estava apto a aparecer com sua forma e sua voz aos amigos logo após sua morte; mas as ideias desses discípulos estavam equivocadas em muitos aspectos e não são autoridade para nós a menos que inspiradas”.

Concluímos o tema com mais este comentário de Broadus: “Não se pode afirmar categoricamente que a ideia de anjos da guarda seja um engano, mas não existe passagem que comprove ser verdadeira e as passagens que podiam meramente ser compreendidas dessa maneira não são suficientes como base de uma doutrina”.

  1. DOS ANJOS ÍMPIOS.

A atuação dos anjos malignos será considerada mais detalhadamente no próximo capítulo, o qual aborda Satanás, seu líder e guia. Basta mencionar aqui que os espíritos ou anjos malignos lutam contra Deus e Seus santos. Isso se percebe em Efésios 6:12 e na possessão demoníaca nos primórdios do Novo Testamento.

No que se refere à possessão demoníaca, é imprescindível afirmar que o que se encontra registrado é nítido e determinante para admitir-se uma simples condescendência por parte de Cristo e dos apóstolos às noções populares, porém equivocadas, dos judeus. É bem provável, todavia, que a possessão demoníaca tenha sido mais frequente na época do ministério terreno de Cristo do que atualmente. Isso podemos constatar segundo o histórico, que era mais predominante no início do que nos últimos tempos do Novo Testamento, ainda que não estivesse totalmente ausente nos últimos tempos do Novo Testamento (Atos 16:16-18); e possivelmente não está ausente hoje. Alguns médicos atualmente acreditam que algumas vivências e ações dos insanos são melhor explicadas pela suposição de que a mente do paciente está sob o domínio de um poder alheio. J. P. Boyce apresenta uma boa justificativa para a maior prevalência de possessão demoníaca nos tempos do ministério terreno de Cristo: “A grande batalha estava prestes a ser travada entre Cristo e Satanás e liberdade incomum foi, sem dúvida, concedida ao Diabo e seus auxiliares”.
 

Apostila Setes
Teologia Sistemática

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