A expressão “modéstia” e suas variações (modesto, modéstia, modestamente, modera, etc.) é utilizada mais de 70 vezes pelas Escrituras Sagradas. O uso abundante desta expressão nas Escrituras nos oferece uma percepção da sua relevância para nós. É possível que a modéstia represente atributos diversos para pessoas distintas. Consultando o dicionário, compreendemos que essa virtude que nos proporciona a percepção da nossa fragilidade (Aurélio) é uma característica favorável na existência de qualquer indivíduo. O modesto é comparado a uma pessoa atenciosa, respeitosa e obediente. Assim como uma pessoa carente não pode ostentar grandes bens, uma pessoa modesta não se vangloria de notáveis qualidades. **O que denota essa expressão nas Escrituras Sagradas?** Analisando quais expressões são empregadas por Deus na inspiração da Sua Bíblia para manifestar essa característica de modéstia, podemos aprender muito. Almejamos analisar as expressões empregadas tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento. Desse modo, podemos formular as nossas próprias conclusões. Quando essa expressão é empregada no Antigo Testamento, pode representar: * Sentir-se inferior em pensamento, ser ameno; ou em situação, indigente ou piedoso! subjetivo – <6035, Strongs. Essa conotação é a origem de 6038 e 6031. * Condescendência (“humildade” – Prov. 15:33; 18:12; 22:4), que é de renunciar voluntariamente. Se um homem pratica isso, é denominado discrição. Se o divino pratica isso, é denominado indulgência (<6038, Strongs). * Rebaixamento espontâneo ou forçado, sujeição (“humilhar-te” ! Êx. 10:3; Deut 8:2,3, 16; “humilhado” ! Deut 21:14; “humilhou” ! Deut 22:24,29; Ezequiel 22:11; “humilhai-as” Juízes 19:24; “humilhava” ! Sal. 35:13; “humilharam” ! Ezequiel 22:10; – <6031, Strongs) * Ajoelhar-se, dominar (“se humilhar” ! Lev 26:41; **II** Cron. 7:14; “se humilha” ! I Reis 21:29; “te humilhaste” ! **II** Reis 22:19; “se humilharam” ! **II** Cron.12:6; 30:11; “se humilhavam” ! **II** Cron. 12:7; “humilhando-se” ! **II** Cron. 12:12; “se humilhou” **II** Cron. 32:26; 33:12,23; 36:12; “se humilhasse” ! **II** Cron. 33:19; “se humilhara” **II** Cron. 33:23; “te humilhaste” ! **II** Cron. 34:27 ! <3665, Strongs). * Aquele que sente-se inferior em pensamento, ou em situação! objetivo – (“aflitos” ! Sal. 9:12; “humildes” ! Sal. 10:12; “mansos” ! Sal. 10:17; 34:2 ! <6041, Strongs). * Ser rebaixado, ser desonrado! ( “se inclina”- Sal. 113:6; “ser humilde” ! Prov. 16:19; “se abate”- Isaías 2:9; “te abaterem” ! Jó 22:29; “humilhai-vos” ! Jer. 13:18 – <8213, Strongs). * Se rebaixar (“humilhaste”- Daniel 5:22, < 8214, Strongs). * Inferioridade (“humilde”- Jó 22:29 – <7807, Strongs). * Despedaçado, magoado (“se humilharam”- Jer. 44:10 – <1792, Strongs) * Prostrar-se, venerar (“me inclino” ! **II** Sam 16:4 – <7812) * Ser discreto (“humildemente” ! Miquéias 6:8 – <6800) * Si pisar (“humilha-te” ! Prov. 6:4, <7511, Strongs) * Se diminuir (“se abate” ! Lam 3:20, <7743, Strongs) * Se abaixar (“abaixa-se”- Sal. 10:10, <7817, Strongs) Quando essa expressão é empregada no Novo Testamento, pode representar: As expressões em grego utilizadas para descrever a virtude de modéstia são todas conexas umas com as outras. Analisaremos em minúcias somente duas dessas expressões gregas. Os demais versículos das outras expressões gregas transmitiriam sentido quase análogo com essas expressões e, portanto, somente dedicaremos um resumido espaço a elas. * <5011 (Strongs) Ser oprimido (abatido, enfraquecido) em situações (pobreza) ou em disposição (atitude). Os seus usos pelo Novo Testamento: **Cristo é nosso exemplo primordial:** Mat. 11: 29, “que sou manso e humilde *de coração*” (de atitude) ! Isaías 53:2,3, “Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens”; 42:3 “A cana trilhado não quebrará, nem apagará o pavio que fumega;” (Mat. 12:20) Lucas 1 :52, “elevou os humildes” (pobres) como Maria. Apesar de sua baixa estimação pela sociedade (Luc. 1:48), Deus a usou como um maravilhoso instrumento para operar a Sua vontade para toda a humanidade que crê. Assim Deus opera ainda hoje (I Cor. 1:26-29, “não são muitos os sábios , … poderosos, … nobres que são chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; … as coisas fracas para confundir as fortes; … as coisas vis e desprezíveis, e que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne glorie perante Ele.”) **Modéstia É O Nosso Dever** Romanos 12:16, “Sede unânimes entre vós;” – não é o ecumenismo que está sendo ensinado neste versículo. O que está sendo ensinado é aquela atitude demonstrada por Jesus e os demais santos bíblicos. Jesus mesmo disse: “Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas” (Mateus 7:12). A mesma verdade aprendemos com Tiago quando disse: “Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis” (Tiago 2:8). Perante os olhos de Deus todos somos igualmente pecadores, e todos precisam se arrepender de seus pecados crendo pela fé em Cristo. Em vista disso a Bíblia diz: “…não ambicioneis coisas altas…” Romanos 12:7. Ainda em Gálatas 6:2 Paulo diz: “Levai as cargas uns dos outros …” Em Tiago 1:27 podemos ler: “Visitar os órfãos e as viúvas na suas tribulações …”. Aprendemos então que não devemos ter pretensões superiores sobre os nossos semelhantes. Podemos notar registrado em Mateus as preciosas lições de humildade ensinadas por Jesus aos seus discípulos: “Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios são estes dominados, e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser entre vós fazer-se grande seja vosso serviçal; E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20:25-28). “…mas acomodai-vos às humildes…” (Romanos 12:16). Também devemos gostar da companhia dos pobres e dos que são despojados de quaisquer qualificações, Tiago 2:1-5. Em Provérbios. 3:7 podemos observar o sábio conselho de Salomão: “Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao **SENHOR** e aparta-te do mal”. **Modéstia É A Obra de Deus** Em **II** Cor. 7:6 diz: “Mas Deus, que consola os *abatidos…*” Os cristãos que têm tribulações, pobreza e sentimentos de fraqueza, sem dúvida alguma usufrui da companhia do poderoso Consolador, o próprio Deus. O sábio tem a sua sabedoria para lhe consolar. O forte tem a sua força para lhe consolar. O rico tem a sua riqueza para lhe consolar. Porém, os fracos podem conhecer a beneficência, juízo e justiça do próprio Deus. Este é o consolo que o abatido pode gloriar-se (Jer. 9:23,24). Porém, não se glorie de sua pobreza, mas em Deus. A pobreza pode ser um fator convincente da sua necessidade de Deus, mas a glória deve ser dada a Deus. Em Tiago 4:6 e em I Pedro 5:5 lemos: “Deus dá graça aos *humildes*”. Deus ampara os desamparados e os humildes. *Os que se julgam auto-suficiente, não precisam de amparo*. Deus dá ajuda em tempo oportuno aos humildes. *Os que se julgam poderosos, não precisam de graça*. A graça de Deus sempre está ao lado dos espiritualmente fracos e necessitados. Veja o que Jesus disse a respeito disso em Marcos 2:17 e também em Lucas 5:32 *Aos que se julgam perfeitos não precisam de misericórdia*. Jesus Cristo está pronto para salvar todos aqueles que estão conscientes de sua falência espiritual. Veja esta grande verdade em Hebreus 4:15,16. Quando o pecador chega a conclusão da sua precária condição espiritual diante de Deus, então só resta chegar ao trono da graça para obter a misericórdia divina. Reconhecer a sua necessidade espiritual é dadiva de Deus. É aconselhável que os humildes conheçam a importância desta ajuda: não há virtude na qualidade de ser pobre e fraco. Essas condições porém revelam a necessidade da ajuda divina. Certamente que a ajuda divina vem quando o pecador em qualquer circunstância chega *ao trono da graça*. Diante do trono da graça os humildes e miseráveis, espiritualmente falando. devem depositar sobre Ele as suas apreensões (I Pedro 5:7-9); desfrutar dos sensatos conselhos da Palavra de Deus (Sal. 19:9-11); ser mais submisso à Palavra do Senhor com firmeza e fé (Fil. 4:6-9). Essa é a assistência que todos obtêm de Deus quando O buscam.O Modelo de Paulo nos Instrui
Em II Cor. 10:1 encontramos o apóstolo Paulo dizendo: “…quando presente … sou modesto“. Em momento algum Paulo se considerava um formoso ou um autossuficiente. Após sua conversão a Cristo, Paulo despojou-se de todo o brio carnal e de todas as regalias que possuía em sua existência religiosa. Antes de aceitar Cristo, Paulo gozava de muitos benefícios e honrarias em sua vida religiosa. Veja o que ele mesmo expressou: "Mas o que para mim era lucro considerei como prejuízo por Cristo. Sim, na verdade, tenho tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele, perdi todas as coisas e as considero como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da lei, mas a que vem por meio da fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé..." (Gálatas 3:7-9). Após se converter, Paulo enfrentava as provações e sofrimentos que eram indícios de um discípulo veraz, o que o fazia sentir suas fragilidades (II Cor. 11:23-30; Gal. 6:17).
Conforme acabamos de constatar, o apóstolo Paulo podia confiar muito na carne. Regalias não lhe faltavam. Ele era circuncidado no oitavo dia, da estirpe de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, foi fariseu; segundo o zelo, perseguidor da igreja; segundo a justiça que há na lei, irrepreensível (Fil. 3:4-6). Contudo, em seu ministério, ele não utilizou eloquência de palavras ou de sabedoria, mas sentiu-se em fraqueza, e em temor e em grande tremor. A sua palavra e a sua pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder (I Cor. 2:1-5). Paulo se julgava crucificado com Cristo (Gal. 2:20). Sua glória estava na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual o mundo estava crucificado para ele e ele para o mundo (Gal. 6:14; I Cor. 2:2, “Porque decidi nada saber entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado.”). Paulo sentia-se humilde para consigo mesmo, mas audacioso com a verdade (II Cor. 10:1, “ousado para convosco”).
A postura de Paulo diante das fraquezas, das afrontas, das perseguições e das aflições é uma lição para o Cristão. Se essas fraquezas ensinam o convertido em Cristo a se aprimorar no poder de Deus mediante a fé no Senhor Jesus, então ele pode deleitar-se nelas (II Cor. 12:5-10). Ademais, o Cristão é instruído pelo exemplo de Paulo que, por mais usado que seja no ministério, toda a glória pertence a Deus.
Temos Um Conforto
Tiago 1:9, “glorie-se o irmão de condição humilde” (Tiago 5:6).
Por que este deve alegrar-se? Pois, quando nos rebaixamos, somos engrandecidos por Deus. Vamos examinar o que Pedro disse: “Humilhai-vos, pois, sob a poderosa mão de Deus, para que ele vos exalte no tempo devido” (I Pedro 5:6). Quando atingimos o ápice de nossa bancarrota espiritual, sentindo a ausência de prestígio social e o desdém dos homens, então cessamos de confiar plenamente na carne e voltamos a buscar as infinitas benevolências do bondoso Deus.
Por que o humilde é engrandecido? Porque ele possui a sabedoria, o auxílio, a graça e a clemência de Deus! Esses são atributos que os soberbos e os autossuficientes jamais podem conhecer.
Aprendemos, então, que há grandes dádivas em nossas fraquezas e limitações. Indubitavelmente, há grandes vantagens ao tomarmos consciência de nossas limitações perante Deus. O apóstolo Paulo afirmou: “…de boa vontade me gloriarei das minhas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Por isso, sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então sou forte” (II Coríntios 12:9-10). Quando os crentes percebem em si mesmos “lixos” espirituais, então recorrem ao trono da graça, e o Senhor os exalta com consolo e sabedoria que jamais a força humana poderia alcançar.
Como está a sua postura consigo mesmo? Precisa do amparo divino? O que Ele oferece é um maior discernimento de Si mesmo. Isso basta?
Outra palavra grega que almejamos estudar é:
- Simplicidade de espírito, modéstia – <5012, Strongs. Seus usos pelo Novo Testamento:
Humilde Como Paulo
Atos 20:19, “Servindo ao Senhor com toda a singeleza”. Exemplos de uma vida humilde na vida do apóstolo Paulo:
Atos 13:6-12 – confronto com Elimas, o mágico em Chipre
Atos 13:45-47, 50-52 – confronto com judeus invejosos – Antioquia
Atos 14:2-7 – confronto com judeus invejosos! Icônio
Atos 14:19,20 – confronto com judeus invejosos! Listra Paulo não se exaltou, mas teve a audácia em obedecer à Palavra de Deus e cumprir sua vocação fielmente. Aprendemos que “servindo ao Senhor com toda a humildade” não significa que é errado indicar e confrontar o equívoco. A humildade jamais deve ser confundida com a frouxidão. O servo de Deus que serve “ao Senhor com toda a singeleza” pode expor o erro. Paulo corajosamente confrontou o erro e exemplificou grande ousadia em seu ministério, mas, mesmo assim, testemunhou que serviu “ao Senhor com toda a humildade”.
Os servos de Deus vivem nos dias de hoje com este grande dilema. Muitos confundem humildade com a falta de coragem de expor publicamente o engano da humanidade. Há até mesmo nos dias de hoje pastores *light*. Os membros das igrejas exigem dos pregadores pregações *light*. *Light*, segundo o dicionário Aurélio, significa moderado, não radical. Porém, o Senhor Jesus, numa calorosa pregação, repetidas vezes chamou os fariseus e os escribas de hipócritas. Veja o capítulo 23 de Mateus. Jesus não foi *light* em suas pregações. E ninguém pode negar que Jesus era humilde e manso de coração, Mateus 11:29.
Humildade É O Dever do Cristão
Efés. 4:1,2 ! “Andar de modo digno da vocação … com toda a modéstia”. Nossa vocação, tanto o chamado quanto o seu desempenho, não são pelas qualidades superiores do homem ou pelas sagacidades da sabedoria humana (I Cor. 2:4,5, “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria humana”; II Cor. 3:5, “a nossa suficiência vem de Deus; Efés. 3:7, “dom da graça de Deus … segundo a atuação do Seu poder”; II Cor. 4:4-6, “não pregamos a nós mesmos”). Devemos empregar tudo o que Deus nos proporciona para a Sua glória, recordando-nos no mesmo instante que sempre possuímos pecado e fraquezas (Romanos 7:24; Col. 2:6).
Para caminhar com discrição, não é necessário negar nossos talentos ou nossos dons. A humildade não deve refutar a existência de uma capacidade nem o seu uso. A modéstia não pode transmutar a timidez em uma virtude. Devemos ser obedientes de alma e de todo o coração! Todavia, um dos segredos da humildade é reconhecer os talentos e dons nos demais, Fil. 2:1-8. Mesmo obedecendo à Palavra de Deus, utilizando as qualidades que Deus tem nos concedido, não faz com que sejamos superiores aos outros, I Pedro 3:8, “amáveis”; 5:5.
Na verdade, somente podemos ser obedientes com uma postura correta em relação às nossas aptidões e às dos outros, se formos conduzidos pelo Espírito Santo (Col. 3:12-13). Será notado que essas qualidades com as quais devemos andar de modo digno da nossa vocação, com toda a modéstia, são aquelas qualidades listadas em Gálatas 5:22, ou seja, o fruto do Espírito Santo.
A humildade verdadeira não é uma postura engendrada pela filosofia humana, mas pela influência do Espírito Santo na vida Cristã. Portanto, não procure ter as qualidades do Espírito Santo sem ter o próprio Espírito. É necessário conhecer Cristo como seu Salvador para conhecer o Espírito Santo em sua vida. Se conhece Cristo, já possui o Espírito Santo (Romanos 8:9). Se já conhece Cristo, progrida na graça e verá que as qualidades de Cristo serão manifestas em sua vida, inclusive essa qualidade de discrição. Se não conhece Cristo, suplique a Deus que Ele seja benevolente para salvar mais um pecador.
Existem Precauções sobre O Assunto
Colossenses 2:8-23! v. 18, “pretexto de humildade”. Existe uma humildade que não é genuína, que é utilizada para fins ilícitos. Essa Falsa modéstia é o resultado das doutrinas e tolas minúcias conforme os princípios do mundo. Os simulacros da falsa modéstia buscam aprimorar o indivíduo para que ele possa merecer a redenção ou aperfeiçoar a sua situação perante o Criador. A modéstia simulada segue as normas do homem ou da religião e não Cristo (v. 8). A finalidade dessa modéstia opcional, isto é, aquela filosofia que radica na vontade do indivíduo, é de evidenciar os atributos de Cristo sem deter o próprio Cristo. Os disfarces de modéstia possuem o intuito de causar impacto em Deus. Os disfarces de modéstia não conduzem ninguém a ser liberto, pois podem carecer o essencial: a nova essência ou a autêntica conversão em Cristo. Se possuir a nova essência, já não é necessário aprimorar a posição em Cristo, pois, para com Deus, estar em Cristo é o suficiente. De fato, os disfarces de modéstia são apenas para a gratificação da própria fama do indivíduo (v. 18, “compreensão carnal”; v. 23, “deleite da carne”). Alguns exemplos de como os simulacros são apenas da compreensão carnal ou o deleite da carne, são as existências austeras dedicadas às carências nos monastérios e nos conventos, a severa autoflagelação durante a páscoa nas ilhas Filipinas, as árduas penitências dos católicos, as interdições de utilizar cores vibrantes no vestuário, abstinência de eletricidade nos lares, carências de motores e máquinas na vida dos Amish, e as extensas relações de diversas normas e rigorosas proibições do neo-pentecostalismo, etc. Nenhuma dessas atividades, por mais honestas que sejam, jamais levam alguém a ser mais como Cristo na obediência das Escrituras. É preciso possuir Cristo para ser redimido e para satisfazer Deus na adoração verídica. Em Cristo reside corporalmente toda a plenitude da divindade e não nas filosofias segundo os indivíduos (v. 9). O pecador é salvo por Cristo, e dessa forma, nada falta para contentar Deus. Portanto, os salvos não precisam das inúteis minúcias do indivíduo (v. 10). É dispensável toda e qualquer obra do indivíduo para a redenção. A obra vicária de Cristo é suficiente para a redenção e também para a vida cristã. Portanto, não precisamos de nenhuma obra originária da tradição dos indivíduos para estes intentos (v. 11). O poder de Deus transforma a vida dos salvos para ser o que deve ser publicamente e espiritualmente sem a adição de qualquer melhoria que a compreensão do indivíduo possa sugerir (v. 12,13). O imprescindível é Cristo. Foi Cristo quem apagou a cédula (nota promissória), na qual constava toda a dívida do pecador descrita pela lei de Moisés. Moisés pela lei descreveu a imensa dívida que o pecador tinha para com Deus. O indivíduo conspurcado ou maculado em seus pecados jamais poderia quitar esta dívida. Jesus Cristo anulou este documento que continha a dívida do indivíduo, (v. 14). Cristo, sozinho, e unicamente Ele, despojou todos os principados e potestades e deles triunfou pelo Seu próprio poder, não precisando de alguma ajuda do indivíduo para completar a vitória (v. 15). Deus fica plenamente satisfeito pelos que estão *em Cristo*; e as filosofias, as tradições, as cerimônias, os rituais e as carências conforme os princípios do mundo em nada podem aprimorar o que já é perfeito. Não é por comer ou deixar de comer; por beber ou deixar beber; por participar ou deixar de participar de uma festa especial; por cultuar ou deixar de cultuar a lua nova ou por guardar ou não o sábado que faz o cristão ter os atributos corretos (v. 16). O essencial é estar em Cristo para agradar a Deus. Quando o cristão está em Cristo o Espírito Santo o transforma à Sua imagem (Col. 3:10). Sendo assim, o crente não precisa de nenhuma regra como: não toques, não proves, não manuseias (Col. 2:21). Se o indivíduo depende das obras de modéstia para ser liberto ou para satisfazer a Deus, certamente é um grande ignorante que está seguindo a sua compreensão carnal e não está ligado à Cristo. Cristo é O único cabeça pelo qual o pecador chega a Deus (Col. 2:18-19; João 14:6). É muito mais simples praticar simulacros de modéstia, elaborar doutrinas e preceitos dos indivíduos (v. 22), do que sujeitar-se a Cristo para a redenção e para servi-lo com uma adoração pública e sincera. Para ser salvo é necessário conhecer Cristo mediante o arrependimento e fé nele. Para satisfazer Deus na adoração correta é preciso conhecer bem as doutrinas da Palavra de Deus. É preciso ser ligado à cabeça e crescer nEle. Só assim crescerá em aumento de Deus (v. 19; Efésios 4:11-16). Sem esse crescimento, só haverá no indivíduo as aparências de sabedoria que agradam apenas a carne. O cristão não será julgado pelos seus simulacros de modéstia, mas pela própria Palavra de Deus. O pecador deve conhecer Cristo como Salvador e Senhor para contentar Deus e assim terá a Sua redenção. Certamente Deus se agradará do pecador que entrega totalmente a sua vida a Cristo, fazendo uma renúncia completa e irrestrita de tudo o que tem. Jesus mesmo disse: “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:33). Você está em Cristo? A modéstia é relevante na vida cristã, mas de forma alguma nos salva. A modéstia apenas manifesta as qualidades de Cristo naqueles que já estão nEle e que estão sendo transformados mais e mais à sua imagem. A modéstia é o *resultado* de estar em Cristo e não a *causa* da redenção ou crescimento na santificação. Em outros termos, quando se está em Cristo como Único e Exclusivo Salvador, então inevitavelmente a modéstia e santificação serão as suas marcas. Vamos examinar brevemente as outras palavras gregas utilizadas para instruir sobre a modéstia no Novo Testamento. * Baixeza de condições (capacidades) e coração (atitude de si) – <5013. Os seus usos pelo Novo Testamento: Mat. 18:4, “humilde”; 23:8-12, “humilhado” Aprendemos que as regras do reino de Deus é diferente das regras do mundo (I João 2:16) ; Luc. 3:5, “se aplanarão”. Deus pode abaixar o que se exalta (Daniel 4:37); Luc. 14:11, “humilhado”; 18:14, “humilhado”. Aprendemos que o regimento no reino de Deus é diferente do que o do mundo, I João 2:16; **II** Cor. 11:7, “humilhando-me a mim mesmo”. Aprendemos que trabalhar sem salário é humilhante. A igreja tem obrigação de fazer o que é digno, até em dobro, para com aquele chamado que trabalha entre ela (I Tim 5:17). O servo de Deus é pronto para humilhar-se (trabalhar sem receber), mas a posição dos que são ensinados por ele, não devem permitir que isso aconteça (Gal. 6:6); **II** Cor. 12:21, “me humilhe”. O fruto da obra é o gozo e a coroa do obreiro (Fil. 4:1). O obreiro se entristeça por não ter o fruto esperado; Em Filipenses 2:8 a Bíblia diz que Jesus “humilhou-Se”. Em Atos 8:33 Lucas cita o profeta Isaías 53:8 onde diz que Jesus foi tirado da terra. Isto é, Jesus foi morto pelos homens maus. Jesus se humilhou como nenhum outro ser no universo. Ele, como o Jeová Todo-Poderoso, se cansou, João 4:6; Jesus sendo o Onipotente Deus não sabia o dia de sua volta aqui na terra, Marcos 13:32; Jesus Cristo sendo o Onipresente Deus, João 3:13 não estava presente na morte de Lázaro; o Divino conheceu fome, sede, choro e morte. Se o supremo Jesus, sendo o próprio Deus Divino se fez pecado por nós, então nós devemos agüentar resignadamente as fraquezas dos irmãos (Efés 4:32)!; Fil. 4:12, “abatido”. Paulo sofreu em sua carne a mais amarga experiência do abatimento. Ele foi desprezado, Atos 14; tinha um espinho na carne, **II** Cor. 12:7-9; foi escandalizado, **II** Cor. 11:29; conheceu fome, Atos 20:34. Tiago 4:10, “Humilhai-vos”. É difícil nos humilhar, nos arrepender e ter vergonha do erro, mas essa atitude funciona; I Pedro 5:6, “Humilhai-vos”. * Baixeza em posição (baixa estimação diante dos outros) ou em sentimento (meigo) ! <5014, Strongs. Os seus usos pelo Novo Testamento: Lucas 1:48, “na baixeza”; Atos 8:33, “humilhação” ; Fil. 3:21, “corpo abatido”. Não devemos gloriar nos muito neste corpo. O pecado reside nele, Romanos 7:18,23; Tiago 1:10, “abatimento”. É uma vergonha viver uma mentira e colocar prioridades no que é temporal, por isso, é uma glória para um rico em bens materiais ser feito fraco. Depois de estudar estas palavras hebraicas e gregas que são traduzidas em modéstia e as suas variadas formas, entendemos que !modéstia? trata-se de uma forma ou outra de rebaixar. Esse rebaixamento pode ser forçado (como por exempl ser subjugado por outrem ou algo mais forte; ser desprovido por índole ou por ausência de aptidão), ou pode ser abaixamento intencional (como por exemplo, compaixão, recato ou adotar uma postura de singeleza). Essa situação é meritória na medida em que o modesto busca o estrado da graça para instruir-se de Cristo. O recato não converte a acanhamento em uma qualidade, mas reconhece os dons que Deus tem concedido e tenta utilizá-los para a exaltação de Deus. Essa boa situação também tenta admitir as aptidões que Deus tem ofertado aos outros. Somos alertados também que não é a singeleza que nos faz ser aceitos perante Deus, mas o fato de estarmos em Cristo. Permanecendo em Cristo, possuiremos as qualidades indispensáveis que emanam Dele, incluindo a singeleza. A singeleza não é resultado de doutrinas do homem, mas o resultado da ação do Espírito Santo guiando-nos a participar em Cristo. Permanece em Cristo?
A Relevância da Singeleza
Quando somos singelos tornamo-nos como Cristo Mateus. 11:29 registrou a manifestação da singeleza e brandura de Cristo nas seguintes palavras: “… sou manso e humilde de coração”. Também em outras partes do Novo Testamento encontramos o registro de que Jesus era brando, obediente e singelo. Mateus. 21:5; Lucas 22:27, “Eu, porém, entre vós sou como aquele que serve.”; “todavia não se faça a minha vontade mas a Tua.”, Lucas 22:42; “…esvaziou-se a Si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante na forma de homem;” Filipenses 2:7. Cristo, como temos analisado, ainda que sendo o Onipotente, se fatigou, João 4:6; ainda que sendo o Onisciente, não sabia o dia do regresso do Seu Pai, Mateus. 24:36; ainda que sendo o Onipresente, não estava presente na morte de Lázaro, João 11:15; ainda que sendo o Divino, sentiu fome, Mateus. 4:2; sede, João 19:28. Jesus chorou, João 11:35 e, Jesus, o Onipotente Deus, experimentou a morte, João 19:30. Conhecendo o que Jesus, sendo o eterno Deus se fez pecado por nós, nós também devemos tolerar as fraquezas dos nosso estimados irmãos, Efésios. 4:32! Devemos reproduzir a singeleza de Cristo em nosso ministério. O apóstolo Paulo disse em II Tim 2:24: “E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor;”
Quando somos singelos tornarmo-nos como os santos homens de Deus. Em Gên. 39:19-23, José achou “graça aos olhos do carcereiro-mor” pois o Senhor “estendeu sobre ele a Sua benignidade”; Moisés, Núm. 12:3, “era o homem Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra.”; Ester 4:16 humildemente disse: “… se perecer, pereci”. Jó, o homem que deu o grande exemplo de paciência e sofrimento, falou: “me abomino e me arrependo no pó e na cinza.”, Jó 42:6. O grande rei e profeta Davi disse: “SENHOR, Tu me sondaste, e me conheces”, Sal. 139:1. Eis as assombrosas palavras do profeta Isaias: “…Ai de mim! Pois estou perdido; porque eu sou um homem de lábios impuros…”, Isaías 6:5. Em Jeremias 1:6 lemos: “…ainda sou menino.”. Foi dito do grande homem de Deus, Daniel, que superou pela fé vários empecilhos que ele tinha “espírito excelente”; Daniel 5:12; 6:3.
Paulo, o apóstolo dos gentios humildemente disse em sua primeira carta aos Coríntios: “…quando fui ter convosco, … não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria”; I Cor. 2:1. Em Gálatas 6:14 ele confessou: “…o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. Ainda este mesmo Paulo falou aos Efésios o seguinte: “A mim, o mínimo de todos os santos”, Efésios. 3:8. O apóstolo Pedro, dando testemunho das santas mulheres do Antigo Testamento, disse: “…um espírito manso e quieto … assim se adornavam as santas mulheres que esperavam em Deus”, I Pedro 3:4-6. Compreendendo que somos “rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta”, Hebreus 12:1.
Quando sabemos da relevância da singeleza, libertamo-nos daquelas angústias que vêm por não conhecer as obras de Deus. Ignorância é insensatez. A Bíblia diz claramente que: “…não é bom ficar a alma sem conhecimento”, Provérbios. 19:2. O próprio Senhor Jesus disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus”, Mateus 22:29. Insensatez é murmurar por aquilo que é para nosso bem e para a exaltação do nosso Senhor Jesus (“Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberemos o mal?”, Jó 2:10). Em Romanos 8:28 está escrito: “…todas as coisas contribuem juntamente para o bem…” Ainda em Romanos 11:36: “…para Ele são todas as coisas, glória, pois, a Ele eternamente…”. Por vezes para nossa humilhação é necessário um “espinho na carne” (II Cor. 12:7-9), ou outras quaisquer aflições. Sabendo que Deus é sábio em seus planos e que Ele controla todas as coisas, então podemos nos alegrar nas tribulações (Tiago 1:2-4) ao invés de lamentar!
Quando nos tornamos singelos libertamo-nos do maldito orgulho e as desastrosas conseqüências que a ausência dela traz para alma. Sabemos que as conseqüências do pecado são muitas. Essas conseqüências podem ser vergonha pública, conforme podemos ver em Lucas. 14:7-14; doenças graves, II Crônicas. 26:16-21; “grande ira”, II Crônicas. 32:25,26; perda de responsabilidades, Daniel 5:20-30, ou outra espécie de rixa. Não há como ter as bênçãos de Deus pela ausência de singeleza, pois “da soberba só provém a contenda”, Provérbios. 13:10. As graves conseqüências da carne são corrupção, Gal. 6:8, e nunca podem operar a justiça de Deus, pois em Tiago lemos: “Porque a ira do homem não opera justiça de Deus” (Tiago 1:20). Quando somos singelos, poupamo-nos de muita vergonha, II Cor. 10:5).
Quando não somos singelos vangloriamo-nos de supostas qualidades como Nabucodonosor, Daniel 4:30; enchemo-nos de arrogância como Herodes, Atos 12:22,23; exaltamo-nos como os príncipes contra Daniel, em destruir ou tirar vidas humanas, Daniel 6:4-13, 24; caímos na tentação de nos exaltar, Mateus 23:9-12; e inchamo-nos com a ciência, I Cor. 8:1, “a ciência incha”. Devemos entender que quando excitamos a nossa carne, “não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque onde há inveja e espírito falacioso aí há perturbação e toda a obra perversa.” Tiago 3:13-18. Portanto há muito proveito e vantagens espirituais quando exercitamos a singeleza.
Bibliografia
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Pastor Calvin Gardner
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